sexta-feira, 28 de agosto de 2009

QUERIA TER ESCRITO

Eu aguento até rigores
Eu não tenho pena dos traídos
Eu hospedo infratores e banidos
Eu respeito conveniências
Eu não ligo pra conchavos
Eu suporto aparências
Eu não gosto de maus tratos

Eu aguento até os modernos
E seus segundos cadernos
Eu aguento até os caretas
E suas verdades perfeitas

Eu aguento até os estetas
Eu não julgo competência
Eu não ligo pra etiqueta
Eu aplaudo rebeldias
Eu respeito tiranias
E compreendo piedades
Eu não condeno mentiras
Eu não condeno vaidades

O que eu não gosto é do bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Eu não gosto dos bons modos
Não gosto

Eu gosto dos que têm fome
Dos que morrem de vontade
Dos que secam de desejo
Dos que ardem

MUSICA: SENHAS (ADRIANA CALCANHOTO)

terça-feira, 4 de agosto de 2009

A LOUCA DA CASA


Algumas pessoas sempre me pedem para eu indicar mais livros, como se indicar livro fosse uma missão simples. Além da responsabilidade envolvida em decidir o que outras pessoas vão ler, ainda existe o problema da pessoas achar seu gosto pessoal uma droga ou então que sua cultura não passa de uma fina camada de verniz.
Mas vou tentar deixar todos esses porens de lado e vou indicar a todas as mulheres, digo mulheres porque sei que meu gosto é um tanto quanto feminino, recomendo um livro incrível que mistura com perfeição ensaio, auto biografia e ficção em doses precisas. Leia de Rosa Monteiro o livro " A louca da casa", um livro interessantíssimo que conta de forma bastante irreverente o vida de um espanhola bastante amalucada.
Eu me deliciei com as historias que são contadas diversas vezes, mas sempre com contradições e paradoxos tão habitual dos "causos" contados. Quem é que não inventa alguns detalhes interessantes as sua próprias estorias para torná-las mais atraentes? Eu costumo dizer que este s"aumentos" servem de ilustração para cativar o publico. Talvez por isso o motivo de eu escrever sempre assim, de modo meio autobiográfico. Vai ver é por identificação que eu tenha me apaixonado tanto pela personagem de A louca da casa, que por sua vez se identifica com anões liliputianos ( aqueles anões que são adultos perfeitos em miniatura). A sensação de ser diferente do padrão é o que me conquistou neste livro.
Leia e deguste com apreciação. Não é sempre que encontramos livros desse calibre.
E viva a Espanha!!!!

quinta-feira, 16 de julho de 2009

ALEXANDRA KOLLONTAI



Nascida em março de 1872 e criada em uma família da nobreza latifundiária, o pai era um general de origem ucraniana e a mãe finlandesa de origem camponesa. Passou a infância entre Petrogrado e a Finlândia. A família limitou-lhe o acesso aos estudos e assim, aos 16 anos, após concluir seu bacharelato, foi autodidata. Aos 20 anos, casa-se com Vladimir Mikhaylovich Kollontai, um jovem oficial do exército, com quem teve um filho, Misha. Em 1898 abandona sua situação privilegiada, deixa o marido e o filho e junta-se ao Partido Social-Democrata dos Trabalhadores Russos, atuando principalmente entre as mulheres trabalhadoras.

Devido aos seus estudos universitários em economia em Zurique, aproxima-se gradativamente dos ideais marxistas. Após retornar a Rússia converte-se numa das primeiras revolucionárias a assentar as bases da organização de mulheres operárias, convocando-as para comícios específicos dirigidos a elas. Durante o período de 1908 a 1917 é exilada em vários paises europeus, chegando a ser presa duas vezes por fazer propaganda anti imperialista.

Após a vitória bolchevique, ocupa o posto de comissária do povo (ministra) para a Assistência Pública no primeiro Governo revolucionário. Trabalhou para que fossem reconhecidos os direitos e liberdades às mulheres, modificando aspectos das leis que as subordinavam aos homens, como a negação do direito ao voto ou reduziam os seus salários e impunham piores condições salariais. Liberalizaram-se as relações familiares e sexuais, aprovando-se o divórcio e o direito ao aborto, além de numerosos benefícios sociais para a maternidade e a habilitação de creches.


Em 1918, Kollontai organiza o Primeiro Congresso de Mulheres Trabalhadoras de toda a Rússia, donde nasce o Genotdel, organismo dedicado a promover a participação das mulheres na vida pública e nos projetos sociais, nomeadamente a luta contra o analfabetismo.

A partir de 1922, começa a sua carreira diplomática, sendo a primeira mulher no mundo a assumir um posto de embaixatriz, primeiro na Noruega (1923 a 1925), depois no México (1925 a1927), Noruega novamente entre 1927 e 1930 (ano em que apoia publicamente a liderança de Estaline), e Suécia desde esse ano até o da sua reforma, em 1945. Faleceu em Moscovo a 9 de março de 1952.

Não é apenas pelo seu pioneirosmo feminista que Alexandra Kollontai merece ser reconhecida, mas também por seus estudos no campo da sexualidade humana e psicologia social que influenciaram muitos pensadores ocidentais de renome tais como: Freud e Reich.

Além de numerosos artigos de temática política, económica e feminista, destaco as seguintes obras:

  • A situação da classe operária na Finlândia (1903)
  • A luta de classes (1906)
  • Primeiro almanaque operário (1906)
  • Base social da questão feminina (1908)
  • A Finlândia e o socialismo (1907)
  • Sociedade e maternidade (?)
  • Quem precisa da guerra? (?)
  • A classe operária e a nova moral (?)
  • A oposição Operária (1921)
  • A nova mulher
  • A moral sexual


quarta-feira, 15 de julho de 2009

O Célebre Episódio do Banquinho

Sentamos no banquinho de cimento já quase seis da manhã, lusco-fusco do dia... meu horário preferido... o céu azul numa promessa de domingo de muito sol... lata de coca diet na mão e um salgadinho do tipo isopor fedorento na outra... fim de plantão... e você me rouba um beijo... me rouba um beijo!!!!

O ultimo beijo roubado eu tinha 13 anos ... e você conseguiu me surpreender quando eu achei que já sabia de tudo.

Eu estava lá de novo naquele banquinho. Nunca pensei que voltaria ali depois de todos aqueles anos. Adorava como você contava para os nossos amigos sobre o célebre episodio do banquinho. Aquilo me fazia sentir tão importante... algo tão banal, tão especial. Momento tão nosso.

FRAGMENTOS

Fragmentos de mim mesma... Enquanto leio fragmentos esparsos tento reconhecer-me... aí estão dispersos, desordenados, sem cronologia... Gostaria tanto de que esse fragmentos fizessem sentido, que as peças do quebra-cabeça finalmente se encaixassem, e então assim meio que num passe de mágica o sentido surgisse como se sempre estivesse estado ali, mas ocultado pelo recorte das peças.... Mas na verdade, é quando embaralho esses fragmentos que posso perceber que o sentido esta por trás do sentido... o sentido não é cronológico, mas biológico... O sentimento persiste como uma pedra sob o rio e que de vez em quando emerge para mostrar que apesar de escondido no profundo é parte constituinte e fundamental de quem sou... é aquilo que tenho sentido, e que tem me sentido.

Mas assim mesmo sem ordem, sem primeiro ou último... todos fragmentos são parte de mim, todos momentos me constituem igualmente sem ordem de importância ou acontecimento... sou aquilo que me aconteceu.

E você me aconteceu tanto!!!

A VIAGEM

- Você não disse nada sobre a viagem. O que você acha?

- Você nunca me perguntou o que eu pensava. Você nunca considerou o que eu poderia pensar. Você já decidiu. Isso não faz diferença agora.

- Mas eu tô perguntando agora...

- ...

- O que você acha? Você não quer que eu vá?

- Não disse isso.

- Não disse nada.

- Eu não disse nada porque se eu disser pra você ficar é porque eu quero te prender perto de mim. E se eu te disser pra ir é porque eu quero que você vá embora e me deixe sozinha.

- É verdade...

- Ta vendo?!

- Mas o que você acha? Você quer que eu vá?

terça-feira, 14 de julho de 2009

BAIÃO DE DOIS ou ZECA E CUMMINGS



Êta vidinha besta, sô!!!!
tudo igual...o sol continua brilhando, a lua continua mudando de formato, o Sarney continua enrolado no próprio rabo, e eu pra variar continuo sem saber.... sem saber o que fazer da vida, sem saber se quero ser mãe, sem saber se vou mesmo pro Rio de Janeiro em outubro, sem saber quando vai ter show do Zeca Baleiro por aqui, ou seria Zé Cabaleiro??... parece estranho, mas não, pra mim faz todo sentido!!!.... nesse mundo de meu Deus eu não ia me assustar se o Zé curte a cabala... só sei que a unica coisa que não pode é ele parar de compor essas músicas m-a-r-a que ele escreve... não é a toa que ele tem um CD chamado líricas... são mesmo! Principalmente uma que ele fez pra musicar um poema traduzido do E. E. Cummings... sente só

"Não sei dizer o que há em ti que fecha e abre
Só uma parte de mim compreende
Que a voz dos teus olhos
É mais profunda que todas as rosas
Ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas"

tem coisa mais linda??? fala sério... esse E.E. Cummings é simplesmente considerado um dos caras que reinventaram a poesia... poesia concreta... um tipo de poesia dificil, dura, como o próprio nome ja diz... concreta. Mas ao mesmo tempo tão sublime, quase subliminar... doce... ainda bem que o Brasil produz seres de inigualável sensibilidade como o poeta Augusto de Campos, que conseguiu traduzir a poesia intraduzível de Cummings, pra gente poder se deleitar em português mesmo... não sei se sou só eu, mas sempre tive muita dificuldade de ler poesia em outra lingua que não a minha... parece que falta algo.... então vem sempre um poeta, ser mais evoluido, e me tira do eu desespero... vou postar mais uma do Cummings que é pra deixar um gostinho de quero mais ....

minha especialidade é viver - era a legenda
de um homem(que não tinha renda
porque não estava à venda)

olhar à direita - replicaram num segundo
dois bilhões de piolhos púbicos do fundo
de um par de calças(morimbundo)



quarta-feira, 24 de junho de 2009

ESSE POEMA AÍ É MEU MESMO!!!!

Já não sei o que me acontece

Nessas horas vazias

Nessas noites quentes

Onde sei que não posso te encontrar

Que fazer quando tua presença

Mesmo distante

Me ronda sem pedir licença

Insistindo em me embriagar

Escuto a conversa de longe

E saúdo a solidão

Com um copo de vinho tinto

Com sorriso maroto

Digo que não te amo

E só eu sei como eu minto


E então mais uma vez em meio ao plantão, bateu o desespero... que merda de vida... como foi que vim parar aqui?? Quando penso que tudo isso começou com um x mal marcado para uma prova de vestibular!! Se soubesse que esse x definiria minha vida pra sempre, talvez tivesse considerado um pouco melhor.

Vontade enorme de sair correndo e não mais voltar... doentes, e queixas e queixas e queixas... também as tenho, mas parece que ninguém quer ouvir, não tenho direito a queixar-me, afinal de contas sou médica cirurgiã, independente, bem sucedida e operária da saúde.... grande bosta!!!

Trabalho dupla jornada, plantões... ganho mais que a média, mas também trabalho mais que a média e não tenho direito a errar, e isso pesa e como pesa sobre meus ombros! E quando chego a casa ainda sou obrigada a suportar o ilustríssimo Dr. Drauzio Varella na TV, com suas inúteis opiniões sobre tudo!!! Um dia desses ainda avanço numa gestante que me disser que faz pré natal com o Dráuzio! Afinal, pra que ir ao posto se seu médico vai até a sua casa uma vez por semana em horário nobre dar palpite no seu pré natal? ... E viva a tele consulta, uma inovação drauzioriana!!!!

Agora a saúde sai do buraco!!!


Tirei uma carta

No tarô de Marselha

A sarcedotisa me disse

Que lá no fundo

Eu não me engano... viu?!

domingo, 17 de maio de 2009

Shame


I don't need no rising moon
I don't need no ball and chain
I don't need anything but you
Such a shame, shame, shame
Shame, shame, shame
Shame is the shadow of love

You changed my life
We were as green as grass
And I was hypnotized
From the first 'til the last
Kiss of shame, shame, shame
Shame is the shadow of love

I'd jump for you into the fire
I'd jump for you into the flame
Tried to go forward with my life
I just feel shame, shame, shame
Shame, shame, shame
Shame is the shadow of love

If you tell a lie
I still would take the blame
If you pass me by
It’s such a shame, shame, shame

sábado, 16 de maio de 2009

Quintana é meu padrinho

Outro dia estava lendo Da preguiça como método de trabalho, li a primeira vez porque o título é tudo de bom, embora eu duvide que Mario Quintana tenha esse tipo de método! Mas além da leitura ser fascinante, abriu todo outro mundo pra mim. Sempre pensei na vida de um escritor ou poeta como algo bastante introspecto, onde o cuidado com as palavras e trabalho dispensado sobre os textos em horas e horas de revisões e releituras e acertos...algo que diria com vergonha, como maçante! Com vergonha porque bem no fundo, tenho um desejo secreto de ser escritora. Mas sempre me imaginei sendo do tipo sofredora com a pena na mão, suja de tinta nas mãos e rosto, algo bem irmãs Brontë... um sofrimento que adoro ler em Virginia Woolf, Sylvia Path, Clarisse Lispector, Ana Cristina César ... mas daí Mário Quintana com sua leveza de passarinho me autorizou a ser escritora de mentirinha, na preguiça, no meio da bagunça...
Agora escrevo livremente, meio ao modo lacaniano, mas intensamente libertador... enquanto teclo quase posso sentir essa força que me toma extravasar de meus dedos... quase tão eficaz quanto a musica... quase tão relaxante quanto dormir...
Escrevo agora como louca alucinada... escrevo as primeira bobagens que me pintam na mente... sem critério... Quintana liberou meu id... autorizou meu desvario...
Obrigado! Quintana é meu padrinho no mundo noturno da escrita caótica e solitária

Marguerite Duras

Cada vez que leio Marguerite Duras entro num tipo peculiar de êxtase... ela remove partes profundas do meu pântano... acho todos os livros muito bons, já li mais de uma vez O Deslumbramento que deveria ter sido melhor traduzido para O Alumbramento de Lol.V. Stein. Acho incrível esse nome Lol. V. Stein. Esse jogo de palavras que ela tanto domina me fascina, Lacan dedicou todo um texto ao estudo dessa obra de Duras. Mas meu livro favorito, da cabeceira é A doença da morte... nem pode ser considerado um livro de ficção, pois pode muito bem ser um roteiro, uma peça, uma clipe.. um sonho. No fim do livro, a própria Duras dá indicações de como gostaria que fosse feito em filme ou teatro!! Que mulher surpreendente...
A personagem que não sabe-se se é uma ninfa, alguém realmente existente... essa dificuldade para doar-se, para dar-se ao amor... e a ausência que cria o desejo...